#1 DJ Tahira

O que mais importa, por aqui, é a música! Sobretudo a música dançante, por isso criamos esse novo espaço onde iremos promover o encontro e a troca de ideias com os DJ’s e os produtores que estão no nosso radar, pesquisando, produzindo e tocando o melhor de uma certa música dançante, muito influenciada pela música brasileira.

O convidado do #1 é o DJ, curador, produtor e CEO da Poeira Music, o paulista (e também cidadão do mundo), DJ Tahira!

Salve, DJ Tahira! É uma honra poder trocar essa ideia e compartilhar com os nossos amigos, ouvintes e leitores que nos acompanham. Estamos falando com um dos grandes pesquisadores musicais do nosso país e também do mundo, e para dedicar tanto tempo à pesquisa tem que ter muito amor e carinho pela música, como essa história teve início na sua vida?

Em casa sempre teve música, e eu sempre gostei de dançar. Meu pai tocava sanfona e violão, e meu irmão era adoslecente na época, ouvia música o tempo todo, gostava de Black Music, bem ali no momento de chegada do break por aqui. Alguns filmes me chamaram a atenção para a cultura do DJ, o BreakDance e o Beat Street. Eu adorava as músicas e aquela estética da época do nascimento dos b-boys, mas só me tornei DJ alguns anos depois. Fui começar a me interessar pela discotecagem em 1988, quando eu tinha uns 15 anos gravava as fitas k7 para os meus amigos, algo semelhante as playlists atuais, e eu era o DJ de algumas festas… Na época eu só usava fita k7, eu não fazia mixagem, era stop e play! Fiz um curso de DJ, e aí comecei minha jornada.

Um dos fatores que nos levaram até o seu trabalho é enxergar nele o que pensamos ser o melhor da “música dançante brasileira”. Mas apesar dessa brasilidade tão marcante, você traz muitas referências internacionais nas suas produções, transitando entre diferentes décadas! Como você enxerga o resultado da construção dessas produções? O que você busca comunicar naquele momento que dá o play em um set ou prepara um remix?!

Nas minhas produções e discotecagens sempre tem sons além da música brasileira. Poucas pessoas percebem isso. Sou um apreciador de música em geral. Não existe isso de um estilo só, essa segmentação… Isso é algo que a indústria criou para vender. Geralmente meu foco é Brasil, África e América do Sul. Mas pode ser qualquer outro estilo também. Na gringa eu sou classificado como um DJ e produtor de “música tropical”, não só de música brasileira. Para ser um bom produtor, ou DJ, você precisa entender de todos os gêneros musicais, não tem como escutar um gênero só! Tem produções e discotecagens bem previsíveis, tudo muito padrão e dentro da caixa, isso é a coisa mais chata do mundo. O mundo vive e necessita de diversidade atualmente!

A sua grandeza no cenário musical é inegável, e nós somos muito fãs e estudiosos do seu trabalho! Para quem busca mergulhar um pouco no seu universo, o que não pode deixar de ouvir? Meio que em uma discografia básica.

Eu produzo desde 2010, fui um dos primeiros a fazer edits dentro dessa nova geração pós anos 2000. Tenho muitos remixes, autorais, compilações e edits por aí! Para dar um passeio dentro do meu mundo eu aconselharia:
Cumbia Perdida (Tahira Remix) – Eu adoro Cumbia. Foi uma das primeiras produções minhas. Recebeu elogios de François K. Fiquei chocado quando li no twitter dele na época. Mental Abstrato + Tahira – Baião – Música que fizemos e entrou no documentário Rio 40 Degrees do inglês Julien Temple!
Oribata – Batuki – Oribata é um projeto que tenho com o músico Fernando TRZ. Esse é um house com referências afro-brasileiras.
Levanta Poeira – Vários – Minha primeira compilação. Ela surpreendeu os gringos, porque até então para eles música brasilera era só Samba e Bossa Nova. Foi uma curadoria que focou no mais lindo que existe no Brasil, que é a cultura popular. A música brasileira em sua mais autêntica forma.
Latinateora – Chi Chi Cha Cha (Tahira Remix) – Mais uma com influências latinas, foi um remix produzido para uma banda da Nova Zelândia.
Banda de Pífanos de Caruaru – Cavalinho Cavalão (Tahira Edit) – Uma honra fazer um edit desse grupo emblemático do Brasil, fiquei mais feliz ainda quando incluíram ele no documentário da banda.
Brasil Novo – Vários – Compilação dedicada a novos artistas da música contemporânea daqui. O Brasil tem muito talento desconhecido, a idéia da gravadora veio justamente por causa do sucesso das minhas compilações. Recebemos 5 estrelas da revista britânica Songlines com essa composição.
E lógico, o remix do Gilberto Gil! Som que foi e ainda é tocado por todo o mundo.

No exterior o Brasil tem um reconhecimento cultural muito relevante. A música brasileira está no centro do seu trabalho, o que você considera único ou especial nesse processo de curadoria?

Música brasileira é a espinha dorsal… A ideia é mostrar a diversidade musical que temos no Brasil para exterior, e também para o brasileiro! Porque ele não conhece sua própria cultura. Eu pesquiso tanto sons novos quanto antigos, e esse estudo não acaba nunca.

Somos fãs daquele set incrível tocado no Boiler Room x Ballantines, como foi o processo de pesquisa e produção desse set? E como foi a experiência de tocar coco de roda no Boiler Room?

Eu não ensaio dj sets. Foi tudo muito espontâneo, eu já tocava aquelas músicas há anos. Foram hits que cultivei nas minhas pistas durante o tempo, foi uma pesquisa dentro do universo contemporâneo brasileiro. E dei preferência para sons de influência indigena e africana, porque era algo que o mundo não conhecia. Quando gravei aquele Boiler Room eu recebi muitas mensagens de pessoas do mundo todo dizendo que não sabiam que aquilo era música brasileira, porque lá fora (infelizmente) só se conhece a Bossa Nova e os Sambas circuito RJ /SP. Eu sempre faço questão de tocar sons que não estão na moda justamente para provar às pessoas que não existe repertório padrão. E também sou um pesquisador, se eu tocar sempre tudo que os outros DJ ‘s tocam não tem o porquê da pesquisa.

Tocamos “Moqueca”, seu último lançamento, o carnaval todo, está incrível! Que tal nos contar um pouco mais sobre os trabalhos mais recentes, as novidades que estão chegando, e um pouco sobre esse processo? como por exemplo: A relação com os produtores originais e como surgiu a ideia, e a oportunidade de produzir esse remix.

Todo ano vou para NYC, e muitos DJ’s e gravadoras conhecem meu trabalho lá. O dono do selo Bastard Jazz me mandou uma mensagem perguntando se eu gostaria de fazer um remix para o Captain Planet, eu adoro e discoteco muito sons do Captain, então foi um sim logo de cara (risos). Como a música original tinha uma pegada mais Disco, eu quis fazer algo 4×4 que pudesse fugir desse padrão. Entao eu misturei percussões de Ijexá e Cumbia trazendo a América do Sul para o universo daquela música. Uma mistura que nunca ninguém fez, e o resultado tem sido excelente. Tocou nas rádios em Londres, Philadelphia, Helsinki, New York… Até em Tel Aviv tocou! Eu estou bem feliz com o resultado.

DJ Tahira, como falamos no início da entrevista, você é um DJ mundialmente conhecido, já trabalhou na América do Norte, por diversos lugares da Europa, e etc. A essa altura do campeonato, como você enxerga o lugar que você ocupa como um DJ, aqui no Brasil e no exterior?

Eu nunca imaginei que a música ia me levar tão longe. Poucas vezes na vida eu viajei somente por turismo, tudo foi sempre trabalho. Por exemplo: Na Europa eu só não conheço a Grécia, Rússia, Islândia e Luxemburgo. O resto, eu conheço tudo, sempre discotecando! Agradeço a Deus pelo dom da música na minha vida. Tive a sorte de descobrir cedo e acreditar que poderia seguir esse caminho. Espero que meu trabalho possa inspirar outros dj e produtores nesse caminho.

Se sente realizado com sua trajetória até aqui?! O que você ainda almeja construir nesses próximos anos com relação ao seu trabalho?

Eu me vejo fazendo mais coisas na música além de discotecar. O resultado das minhas duas compilações abriu espaço para começar uma gravadora independente! Tudo que faço ganha atenção na Europa, então é um bom momento para apresentar músicas novas e estilos não tão conhecidos do Brasil ao mundo. E quem sabe um trabalho autoral…

Links para vocês:
Discoteca Básica: Moqueca (DJ Tahira Remix)
Africa Brasil Series: Stream DJ Tahira | Ouça a Africa Brasil Seriesplaylist gratuitamente online no SoundCloud
Turntable Lab Nyc: LIVE! AT THE LAB w/ DJ Tahira – YouTube
MangoLab RJ: Tahira DJ Set @Deu Boogie – YouTube

Quer conhecer mais? Acesse o site do DJ Tahira: DJ TAHIRA